Santos da Família Vicentina



Catarina veio ao mundo no dia 2 de maio de 1806, numa família de camponeses em Fain-les-Moutiers, Sudoeste de Montbard.

Sua mãe morre aos 42 anos e Catarina, com nove anos, refugia-se no imenso amor da Virgem Maria: “É você que eu escolhi por minha mãe” disse-lhe ela.

Maria Luísa, a irmã mais velha de Catarina, já é Filha da Caridade. Em 1828, Catarina, freqüenta as Filhas da Caridade do Hospital de Moutiers-Saint-Jean e pensa em entrar, ela também, nesta Comunidade. Ela tem 22 anos.

Quando chegou para Catarina o tempo de falar com seu pai sobre sua vocação, a resposta é imediata e formal: “Tu não irás!”  Para desviá-la de seu projeto, ele a envia para a casa de seu irmão Charles que possui um restaurante operário em Paris.

Depois de muitas hesitações, seu pai acaba dando seu consentimento. Em 21 de abril de 1830, Catarina começa na Casa-Mãe seu Seminário (noviciado), na rua do Bac. Aqui, nesta Capela, Maria aparece a ela duas vezes.

Ao sair do Seminário, Catarina é enviada para o Asilo de Enghien, no bairro de Reuilly onde passará toda sua vida a serviço dos velhinhos.

As aparições foram uma luz para a vida de serviço de Irmã Catarina. A Santíssima Virgem lhe revelou o rosto de Deus. Agora, Irmã Catarina aprende a reconhecê-Lo nas pessoas que sofrem.


“Além das aparições limitadas aos poucos meses de Seminário (abril – dezembro de 1830), Catarina também descobre: o Cristo no cotidiano, especialmente nos pobres, sobretudo, segundo o Evangelho de Mateus 25:
“Tive fome e me destes de comer...”
“Estive preso e me visitastes...”
“Estive doente e me visitastes...”
“O que fizerdes ao menor dos meus, é a mim que o fazeis”.

Santa Catarina passou 46 anos de sua vida em Reuilly, na humildade, a serviço dos velhinhos. Era realmente, como o declarou Pio XII por ocasião da Beatificação: “A Santa do dever de estado e do silêncio!”

Falecida em 1876, foi enterrada num túmulo da casa de Reuilly onde viveu. Em 1933, seu corpo foi transportado para a Casa-Mãe, e repousa num relicário aos pés da Virgem do globo na capela da rua do Bac. O hábito com o qual está vestida é o mesmo modelo usado pelas Filhas da Caridade até 1964.




Elizabeth Ann Balley Seton, que fundou a Comunidade das Irmãs Americanas da Caridade de São José, foi a primeira Santa dos Estados Unidos, canonizada pela Igreja Católica. Foi a pioneira da Educação católica, e abriu o caminho às Escolas católicas paroquiais nos Estados Unidos.


Elizabeth Ann nasceu no dia 28 de agosto de 1774, em Nova York, filha de Catarina Charlton e Richard Bayley, ambos episcopalianos fervorosos. Foi batizada e educada na igreja Episcopaliana. Seu pai, médico e cirurgião reputado, foi o primeiro Ministro da Saúde do Port de Nova York, foi depois professor de anatomia no King College (universidade da Colúmbia). Elizabeth cresceu em Nova York, e em Nova Rochelle. Em 25 de janeiro de 1794, Elizabeth Ann casa-se com William Magee Seton, filho de uma rica família de armador e vão residir no State Street, em Manhattan. Seu casamento foi abençoado com o nascimento de três meninas e dois meninos.


Infelizmente, William adoece de tuberculose rapidamente. Parte para a Itália, acompanhado por Elizabeth e sua filha mais velha, Annina, na esperança de recuperar a saúde. Mas, ele morre em 27 de dezembro de 1803, deixando-a viúva, com 5 filhos aos 29 anos apenas.


A família Felicchi, de Livorno, na Itália, parceira nos negócios e grandes amigos de Elizabeth e de William, oferece-lhe hospitalidade e reconforto. Elizabeth Ann, muito espiritual, ficou bastante sensibilizada com a devoção e a fé da família Felicchi, que era católica.


Um ano após seu regresso a Nova York, Elizabeth decide converter-se ao catolicismo e, no dia 14 de março de 1805, foi recebida na Igreja de São Pedro, em Barclay Street. Esta decisão custou muito a Elizabeth, por causa do afastamento de sua família e de seus amigos.


Os anos seguintes foram muito difíceis para Elizabeth, viúva com seus cinco filhos, sem condições financeiras para educá-los, por causa da falência da empresa familiar, poucos anos antes da morte de William, e sem o apoio de sua família e de seus amigos.


Em junho de 1808, o Padre William Louis Dubourg, sacerdote sulpiciano francês, de Maryland, encontra-se com Elizabeth durante uma visita em Nova York e a convida para ir a Baltimore, prometendo-lhe abrir uma Escola para as crianças desta cidade.


Graças à generosidade de um benfeitor, a Escola pôde instalar-se em Emmitsburg (Maryland). Esta nova obra começou no dia 31 de julho de 1809, em Saint Joseph´s Valley. Muito em breve, atrai também outras mulheres que se reúnem ao redor dela para se consagrarem à instrução de crianças pobres, começando assim, a Comunidade das Irmãs da Caridade.


No dia 17 de janeiro de 1812, Elizabeth recebe a confirmação oficial das Regras e das Constituições das Irmãs da Caridade dos Estados Unidos. Estas Regras foram redigidas sob o modelo das Regras Comuns das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, fundadas na França por São Vicente de Paulo e Santa Luísa de Marillac, em 1633. Nasce assim, a primeira Comunidade americana de mulheres consagradas.
Bem antes de sua acolhida na Igreja Católica, Elizabeth Ann tinha visto o Cristo nos pobres, particularmente nas mulheres e crianças necessitadas.

Elizabeth é reconhecida Santa por causa de sua busca da vontade de Deus, e por sua fidelidade em respondê-la. Sua santidade enraíza-se em sua fidelidade à oração e à vida litúrgica da Igreja Protestante Episcopaliana de seu tempo. Fiel praticante de sua paróquia da Santíssima Trindade, ela rezava longos momentos diante do Santíssimo Sacramento, na capela vizinha de São Pedro, que era católica.

Elizabeth Ann morre no dia 4 de janeiro de 1821, em Emmitsburg, aos 46 anos.

Em 25 de março de 1850, a Comunidade de Emmitsburg une-se à Companhia das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, da França.

Em 17 de março de 1963, Elizabeth Ann Seton foi beatificada pelo Papa João XXIII, e depois, canonizada em 14 de setembro de 1975, por Paulo VI.


Rosalie Rendu

Jeanne Marie Rendu (Irmã Rosalie), filha de Antonio Rendu e de Marie-Anne Laracine, nasceu em 9 de setembro de 1786, em Confort, lugarejo de Lancrans, município de Ain, França.

A Venerável Irmã Rosalie Rendu foi o centro de um movimento de caridade que caracterizou Paris e a França, na primeira metade do século XIX, quando a assistência pública ainda não existia.

Em 25 de maio de 1802, Irmã Rosalie entrou no Seminário (noviciado), na Casa Mãe das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, em Paris. Ao sair do Seminário, Irmã Rosalie foi enviada ao bairro Mouffetard, um dos mais miseráveis de Paris, onde serviu os Pobres durante 53 anos. Aí, dedicou-se como enfermeira, juiz de paz, catequista das crianças de rua; aí, enfrentou até mesmo, arriscando sua própria vida, os revolucionários, dizendo: “Aqui não se mata ninguém!”

Irmã Rosalie era “a boa mãe de todos”, sem distinção de religião, idéias políticas, condições sociais. Com uma das mãos, recebia dos ricos e, com a outra, dava aos pobres.

Aos ricos, Irmã Rosalie proporcionava a alegria de fazer o bem. Com freqüência, via-se na sala de recepção de sua casa, Bispos, Padres, homens de Estado e da cultura. Entre eles: Donoso Cortes, Embaixador da Espanha, o Imperador Napoleão III com sua esposa, estudantes de direito, de medicina, alunos da Politécnica, que vinham pedir informações, recomendar alguém ou perguntar em que porta bater antes de fazer uma boa obra. Assim vieram o Bem-aventurado Frederico Ozanam, co-fundador das “Conferências de São Vicente de Paulo”, e o Venerável Jean Léon Le Prévost, futuro fundador dos Religiosos de São Vicente de Paulo, que pediam-lhe conselhos para pôr em prática seus projetos.

Todos os dias, fizesse o tempo que fizesse, Irmã Rosalie percorria as ruas e ruelas que iam além do Panthéon, atravessando o sul da Montanha Santa Genoveva – rua Mouffetard, passagem dos Patriarcas, rua de l´Epée de Bois, rua do Pot de Fer. Com o seu terço na mão, seu pesado cesto no braço, apressava o passo, pois, sabia que a esperavam!

Como a monja no claustro, Irmã Rosalie caminhava na direção de Deus: ela Lhe falava desta família em dificuldade, porque o pai estava desempregado, daquele ancião que corria o risco de morrer sozinho num casebre: “Jamais faço tão bem a oração, quanto na rua”, dizia ela.

Sobre o túmulo de Irmã Rosalie, no cemitério Montparnasse, há sempre flores colocadas por pessoas desconhecidas, e um epitáfio menciona: “à boa Mãe Rosalie, seus amigos reconhecidos, os pobres e os ricos”.

“Jamais faço tão bem a oração, quanto na rua”, dizia ela.

Sua fé, firme como uma rocha e límpida como uma fonte, revela-lhe Jesus Cristo em toda circunstância; ela experimenta na dia-a-dia esta convicção de São Vicente: Dez vezes, ireis ver o pobre, dez vezes por dia aí encontrareis Deus.... vós ides em casas pobres, mas, aí, encontrareis a Deus”. Sua vida de oração é intensa; como o afirma uma Irmã: ela vivia continuamente na presença de Deus: se tinha uma missão difícil para cumprir, tínhamos a certeza de vê-la subir à Capela ou de encontrá-la de joelhos no seu gabinete”.


“Se o amor é um fogo...”
Responsável por sua Comunidade, Irmã Rosalie recebeu a missão de acompanhar cada uma de suas Irmãs, apoiá-las, formar as mais jovens, animar a vida fraterna. Ela o desempenhou com grande cuidado, comunicando-lhes seu ardor e sua alegria de servir. Para convencer-se disso, basta ler algumas de suas testemunhas:

Irmã Rosalie tinha a arte de discernir e de conduzir. Irmã Angélica conta: “Como eu era a mais jovem e a mais robusta, Irmã Rosalie, encarregou-me do bairro mais afastado e populoso: tereis o melhor lote, disse-me: é na Cité Doré, onde se refugia tudo o que há de mais medíocre em Paris. Encontrareis muitos bêbados. Caminhai modestamente, com diligência, sem precipitação. Perguntai a todas as crianças que encontrardes se vão à Escola. Há muito bem a fazer! Verdadeiramente, é o lugar de uma Filha da Caridade”.

“Humilde na sua autoridade, Irmã Rosalie nos repreendia com grande delicadeza; sua fórmula ordinária era esta: “Nosso Senhor vos pediu isso... Não o compreendestes?”

“Era severa sobre a maneira como recebíamos os pobres: eles são nossos Senhores e nossos mestres. Pensastes nisso, minha Irmã, quando mandastes embora este pobre, tão duramente?”

“Se, na continuação de um empreendimento, nós lhe anunciávamos uma boa solução, ela nos enviava a comunicá-la às famílias interessadas, para que nós nos regozijássemos com sua felicidade e nos encorajava a nos cansarmos pelo bem dos pobres: jamais, minhas Irmãs, faremos bastante por eles!”

“Irmã Rosalie via Deus em suas companheiras, que Ele escolheu por esposas. Ela as amava ternamente, como uma verdadeira mãe”... “Quando o tempo estava ruim ou ameaçava uma tempestade, enquanto estávamos fazendo compras, ela encontrava sempre um momento para colocar nossos sapatos em cima da chaminé, assegurando-se, ela mesma, se não estávamos com os pés úmidos e, se nossas roupas tinham secado!”

“Se o amor é um fogo, o zelo é sua chama!”, dizia São Vicente. A pequena Comunidade da rua de l´Epée de Bois, sustentada pela oração e o amor fraterno, estava pronta para enfrentar a grande miséria deste século atormentado.



“Para restituir ao homem sua dignidade...”

“O pobre povo morre de fome e se condena”, dizia São Vicente de Paulo.

Tal era, na França, a situação dos campos, no século XVII. É uma situação semelhante – talvez pior, a que constatou a jovem Irmã Rosalie ao chegar ao bairro de Saint Médard, em Paris. Mal alojados, famintos, explorados, os pobres são entregues à degradação e à revolta.

“O bairro mais pobre de Paris, aquele aos quais 2/3 da população falta madeira no inverno, aquele que joga o maior número de crianças enjeitadas nas casas “Crianças abandonadas”, maior número de doentes no Hôtel Dieu, mais mendigos nas ruas... mais operários, nas praças, sem trabalho, maior número de presos na polícia correcional” Escreveu Honoré de Balzac.

“Lutar contra a miséria para devolver ao homem sua dignidade”, este será o objetivo de Irmã Rosalie durante 54 anos!

Com sua Comunidade, ela cuida, alimenta, visita, consola, apazigua, incansavelmente! Dotada de uma viva sensibilidade, Irmã Rosalie se compadece com todo sofrimento: “Há algo que me sufoca, diz ela, e que me tira o apetite... é pensar que em muitas famílias falta o pão!”... E sua intuição feminina lhe sugere o gesto que deve fazer e a solução que deverá inventar. Para o serviço dos pobres – sejam quais forem - ela ousa empreender tudo com inteligência e audácia: nada a fará parar, quando se trata de colocar de pé aquele que sofre.

Irmã Rosalie vivia ao pé letra as recomendações dos Fundadores:

“Não devo considerar um pobre camponês pelo seu aspecto exterior, nem segundo o que transparece de sua capacidade... Mas, virai a medalha, e vereis através das luzes da fé, que o Filho Deus... nos é representado por estes pobres; na sua paixão, ele quase não tinha a aparência humana” – São Vicente.

“Devemos amá-los ternamente e respeitá-los fortemente” - Santa Luísa.

Irmã Rosalie não contesta a ordem estabelecida, não é a favor da revolta: não é este o seu método. Para lutar contra a injustiça e a miséria, desperta a consciência daqueles que têm o poder ou dinheiro; trabalha para instruir as crianças e os jovens pobres e, para responder às urgências, ela impulsiona à partilha: “organiza a caridade”.

“Há tantas maneiras de fazer a caridade, o pequeno socorro em dinheiro ou alimento que damos aos pobres, não pode durar muito tempo; é preciso visar um bem maior e duradouro. Devemos estudar suas aptidões, seu grau de instrução e procurar trabalho, ajudá-los a sair da necessidade.” Irmã Rosalie dá provas de uma grande lucidez. Com alegria, apóia e aconselha seus amigos engajados nas reformas sociais, porém, por predileção, a serva se une aos pobres, “seus mestres”, no lugar da miséria.


“Quando o fogo se propaga...”

A correspondência de Irmã Rosalie e os testemunhos de suas Irmãs revelam sua preocupação com a juventude e seu talento como educadora. Não há muita distância entre o bairro Mouffetard e o bairro latino! Algumas vezes, são vistos, no seu gabinete, jovens pertencentes a todas as Escolas, aspirando todas as carreiras: estudantes de direito e de medicina, alunos da Escola Normal e da Escola Politécnica, cada qual vem buscar uma “boa obra” a fazer ou prestar contas de um serviço.

Com ternura e respeito, Irmã Rosalie os acompanha pessoalmente, tem o cuidado com suas condições de vida, apóia-os, assegura o vínculo com sua família, e, como boa educadora, pergunta a cada um, o que pode colocar a serviço dos pobres; a um, seu “bic”; a outro, sua atividade; àquele, sua palavra; a todos, alguns instantes, para socorrer alguém. Ela recomenda-lhes a paciência, a indulgência e a delicadeza.

“Amai os pobres, não os acuseis demais...; lembrai-vos que o pobre é bem mais sensível às boas maneiras do que aos socorros”.

Os relacionamentos continuam, quando estes jovens partem para seus estados: as notícias chegam então à rua de l´Epée de Bois e são comunicadas aos interessados, graças à diligência e à discrição de Irmã Rosalie, que continuava a estimular as vocações que ela tinha suscitado.

“Para que aumente a rede de caridade...”

No dia seguinte da Revolução de 1830, a efervescência do espírito era grande: inquietações, sede de um mundo mais justo, desejo de mudança na sociedade, engajamento dos católicos. Neste momento, havia na Sorbonne, um jovem estudioso, querendo insuflar uma vida nova a esta sociedade doente.

“Um pequeno grupo se reunia numa espécie de círculo de estudos, chamada Conferência de história”. As reuniões se realizavam na casa do senhor Emmanuel Bailly, professor de Filosofia e Diretor do jornal “A tribuna católica”. Entre os habituados deste círculo, encontravam-se Ozanam, Lamache, Letaillandier, Leon Le Prévost, Lallier... e outros. Um colega lhes lançou, um dia, este desafio: “... Vós que vos orgulhais de ser católicos, o que fazeis?”

Esta interpelação fez o grupo refletir. Um deles propôs: “Fundemos uma Conferência de Caridade”.  Esta idéia agradou a todos; porém, tinham necessidade de um guia. O Senhor e a Senhora Bailly, conhecendo Irmã Rosalie, enviou-os à rua de l´Epée de Bois. Irmã Rosalie lhes ensinou a visitar a pobreza, à domicílio. Aprenderam com ela a ver o Senhor nos pobres. Ao indicar as famílias para visitar, ela lhes dava conselhos sobre a maneira cristã de abordá-los, respeitá-los, considerá-los como irmãos, ricos em humanidade.

Fundada em São Etienne du Mont, em 23 de abril de 1833, a Conferência da Caridade se torna, em fevereiro de 1834, a Conferência de São Vicente de Paulo, que foi escolhido como mestre e modelo. O número de membros da Conferência aumenta rapidamente. Em 1835, o Senhor Le Prévost propôs duplicá-la, a fim de criar uma outra em São Sulpice. Houve uma pequena discussão: as opiniões estavam divididas! A unanimidade só foi conseguida, quando aquele que a propôs, disse que a idéia vinha de Irmã Rosalie. As Conferências se multiplicaram rapidamente em Paris e nos Estados... Frederico Ozanam sonhava “unir o mundo numa rede de caridade”.


“Um caminho de reconciliação...”

A pequena sala de recepção, da rua de l´Epée de Bois não se esvaziava nunca! A Comunidade está no centro de uma imensa rede de entre - ajuda, cada um pode vir pedir ou oferecer. Ricos, pobres, fracos ou poderosos, Irmã Rosalie conhece a todos; responsável pela Comunidade, é chamada por “Mãe”, e o é verdadeiramente, pronta a levar socorro, a cada instante, àqueles que sofrem.

“Pintura”: Casa de Caridade – rua d´Epée de Bois, onde viveu Irmã Rosalie

Alguns fatos relatados pelos biógrafos permitem apreciar a retidão, a coragem e a extraordinária liberdade desta mulher fora do comum.

Ø  27-28-29 de julho de 1830 “Os três Gloriosos”: o povo está encolerizado! Paris está coberta de barricadas. Enquanto que à rua de l’Epée de Bois” cuida dos feridos – arruaceiros ou soldados, Irmã Rosalie sai à procura do General de Montmahaut, um benfeitor dos pobres, tido como desaparecido. Colocando em risco sua própria vida, passa no meio das barricadas. Ela o descobre gravemente ferido na praça da Prefeitura (Hotel de Dieu)... Irmã Rosalie o reanima: ele é salvo!

Ø  A justiça, nos dias seguintes, após uma revolução é, com freqüência muito severa! As pessoas que se tinham comprometido, durante o confronto, vieram buscar refúgio na casa de Irmã Rosalie, que as protegeu e facilitou sua fuga. O comandante de Polícia – M. Gicquel – deu ordem de prender Irmã Rosalie. “Impossível!”, diz o soldado encarregado da execução. Todo o povo usará as armas! Como nada conseguiu, o Comandante, pessoalmente, irá prendê-la. Atravessando a multidão, pede para falar com Irmã Rosalie. Mui amavelmente lhe é solicitado aguardar no pátio: em seguida se estabelece o diálogo:
- “O que posso fazer para lhe prestar um serviço? diz ela:

- Senhora, não vim aqui para vos pedir um serviço, mas, para vos prestar um serviço; sou o Comandante de Polícia e quero saber como ousastes ir contra a lei?

- Senhor Comandante, eu sou Filha da Caridade, vou por toda parte, socorrer os infelizes... Se vós estivésseis sendo perseguido, eu vos socorreria, eu vos prometo!

- Não recomeçai! Respondeu surpreso o Comandante

- Isto eu não vos prometo! “Uma Filha da Caridade de São Vicente de Paulo não tem direito de faltar à caridade”.

Ø     Fevereiro de 1831: Irmã Rosalie dá um pedaço de pão a um homem idoso; ele o recusa. “Obrigado, minha Irmã, não tenho mais necessidade: amanhã, iremos saquear o Arcebispado.” No dia seguinte, o Arcebispado está em chamas, porém, Dom de Quélen e um grupo de sacerdotes encontraram refúgio à rua de l´Epée de Bois.

Ø      Por várias vezes, a cólera aparece! Por toda parte reina o medo, e do medo nasce a desconfiança: começam a acusar os médicos e os farmacêuticos pelo contágio, atribuído ao ódio que têm pelo pobre povo e querem massacrá-los. O Doutor Royer-Collar transportava um doente ao hospital. Fazem-no parar! Ele protesta..., mas, o ódio é cego! Então, ele grita a esta gente corajosa do bairro Mouffetard: “Sou um dos amigos de Irmã Rosalie!” O ódio termina imediatamente: deixam-no passar!

Ø      Na Escola, uma criança chora, porque seu pai foi preso; Irmã Rosalie conhece a família: este homem, operário honesto, se deixou levar pelos instigadores. O General Cavaignac, que estimava Irmã Rosalie, vinha algumas vezes à rua de l´Epée de Bois... Neste dia, ela lhe propõe visitar a Escola. Enquanto que os olhares espantados das crianças se voltam para esta visita muito bem vestida, com galões dourados, Irmã Rosalie dirige-se à menina: “Minha filha, eis aqui um Senhor que pode, se quiser, soltar teu papai”.

- Ah, Senhor, devolva meu papai! Temos muita necessidade dele em casa!”

- “Mas, ele deve ter feito alguma coisa grave!”  “O´ não! Mamãe me disse que não.. e, se ele o fez, não o fará mais, eu vo-lo prometo; oh devolvei meu pai! Eu vos amarei sempre!”

Quem ficou mais comovido? Alguns dias mais tarde – sem dúvida, graças à intervenção de Irmã Rosalie – o prisioneiro regressou à família.

Ø  1848!  Novamente o horizonte se carrega de nuvens!  A burguesia quer reinar e o povo quer viver de outra maneira: não como miserável! E aconteceu a mesma coisa que em 1830: batalhas nas ruas de toda Paris! Uma terrível barricada foi preparada no ângulo das ruas: Mouffetard e de l´Epée de Bois. Mas estava tudo muito bem preparado! Um oficial da Guarda Móvel atravessa a barricada com sua tropa, porém, todos os seus homens caíram sob a rajada dos manifestantes, ele ficou sozinho no meio dos revoltados furiosos. Então, ele se precipitou no pequeno pátio da casa das Irmãs: os fuzis dos manifestantes apontaram para ele: Irmã Rosalie se interpõe gritando: “Aqui não se mata!” – “Não! Mas, do lado de fora! Nós o levamos!” – Irmã Rosalie recusa... Os homens, sedentos por sangue, vão começar a atirar por cima dos ombros das Irmãs que cercam o condenado. Irmã Rosalie, porém, cai de joelhos: “Em nome de tudo o que eu fiz por vós, vossas mulheres e filhos, eu vos imploro pela vida deste homem!” As armas, imediatamente se abaixam... Alguns homens choram. O oficial está salvo! “Quem sois vós, minha Irmã?”, pergunta ele.

“Nada, Senhor, sou uma simples Filha da Caridade. Apenas isto!”

Apenas isto! Mas, verdadeiramente isto!





Antonio Frederico Ozanam nasceu em Milão, no dia 23 de abril de 1813; era o terceiro filho de João Antonio Ozanam e Maria Nantas. Frederico dá graças a Deus pela fé de seus pais, profundamente católicos.

No mundo secularizado do século XX, este cristão leigo é um profeta para a Igreja de seu tempo, a qual ama “com um profundo amor e submissão”.

Frederico faz seus estudos secundários em Lyon e universitários em Paris. Durante sua adolescência, depara-se com problemas de ordem espiritual, mas, se confia à direção do Padre Noirot, grande filósofo. Este o ajuda a superar suas dificuldades. Pouco depois, Frederico escreve: “Prometi a Deus passar meus dias a serviço da verdade, e isto me devolveu a paz.”
Durante a Revolução da sociedade e da Igreja, Ozanam e seus amigos se propuseram “fazer, além das conferências de história, uma outra espécie de reunião consagrada à caridade, a fim de unir a ação à palavra e afirma, através das obras, a vitalidade de sua Fé”.

Em 1833, com um grupo de sete amigos, ele funda em Paris a Sociedade de São Vicente de Paulo, que foi colocada sob a proteção deste grande Santo. O mais velho do grupo era Emmanuel Bailly, com 39 anos; Frederico é um dos mais jovens, tem 20 anos. Quando o grupo decidiu ir ao encontro dos Pobres, Emmanuel Bailly os encaminha à Irmã Rosalie Rendu, Filha da Caridade dedicada no serviço dos infelizes do bairro Mouffetard.

As Conferências dão ênfase à visita domiciliar dos pobres, ao relacionamento direto com aqueles que sofrem. Hoje a Sociedade de São Vicente de Paulo está espalhada pelos cinco continentes.

Filho, marido, pai e amigo, ele tem uma sensibilidade profunda que impressiona muito a todos aqueles que o conhecem.

Fiel defensor dos Pobres, Frederico é uma testemunha privilegiada da caridade, durante toda sua vida familiar, profissional e cívica. Ele expressava seu ardente desejo nestes termos: “Reunir o mundo numa rede de caridade”.

Frederico é professor titular de Direito Comercial, na Faculdade de Lyon, e, mais tarde, professor de Literatura Estrangeira, na Sorbonne.

Por razões de saúde, abandona sua profissão, que exercia como um apostolado.  Dedica suas últimas forças à pesquisa científica e à Sociedade de São Vicente de Paulo.

Depois de uma longa enfermidade, Frederico morre aos 40 anos, em Marselha, no dia 8 de setembro de 1853, com o espírito totalmente abandonado em Deus.

Frederico foi beatificado pelo Papa João Paulo II, em Paris, no dia 22 de agosto de 1997, durante as Jornadas Mundiais da Juventude.

Para saber mais:  http://www.ozanet.org




A Congregação das Irmãs da Caridade de Besançon pertence à tradição Vicentina. Sua Fundadora foi Filha da Caridade.
Joana Antide Thouret nasceu em 17 de novembro de 1765, em Sancey-le-Long, França.
Aos 22 anos, Joana ingressou na Companhia das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, congregação que une oração e serviço aos pobres.
Durante a Revolução Francesa, todas as Filhas da Caridade da França foram espalhadas e tiveram que voltar para suas casas. Joana procura unir-se a outros grupos de religiosas, mas, nenhum deles satisfaz suas aspirações.
Em 11 de avril de 1799, começa então uma pequena Escola e uma cantina para os pobres de Besançon. Desenvolve-se logo uma Comunidade e várias casas são fundadas na França.
Em 1810, o rei de Nápoles lhe faz um apelo.  Joana parte para esta cidade com algumas Irmãs a fim de começar as fundações na Itália.
Em 24 de agosto, Joana falece em Nápoles.
A Comunidade conta agora com 4.000 Irmãs espalhadas pelos cinco continentes, trabalhando numa grande variedade de serviços dedicados aos pobres. A vida de Comunidade, a Eucaristia e o Mistério Pascal são, ainda hoje, como o foram para Joana, os elementos chaves de sua vida.
Joana Antide Thouret foi beatificada pelo Papa Pio XI, em 23 de maio de 1926, e canonizada no dia 14 de janeiro de 1934.

Para maiores informações: (link to: http://www.suoredellacarita.org/)



Entre os filhos de São Vicente que foram exemplares em sua vocação de evangelização dos pobres, alguns foram entregues à nossa admiração e podem nos servir de exemplos. Justino de Jacobis, o grande apóstolo do povo da Abissínia (Eritréia e Etiópia atuais) é um deles. Justino nasceu em San Fele, perto de Nápoles, na Itália, no dia 9 de outubro de 1800. Era o sétimo filho de Maria-Josefa Muccia e de João-Batista de Jacobis, família que possuía uma grande riqueza e uma profunda fé cristã.

Justino entrou na Congregação da Missão em 1818, em Nápoles. Sua grande humildade lhe fazia pensar que não possuía as qualidades requeridas para o sacerdócio, mas, graças a Deus, seus Superiores pensavam o contrário e ele foi ordenado Padre no dia 12 de junho de 1824, na Catedral de Brindisi, na Itália. Durante seus primeiros anos de sacerdote, seu principal ministério consistiu em pregar retiros aos leigos, a outros Padres da região e às Irmãs, bem como pregar missões paroquiais. Organizava, igualmente, diversas atividades caritativas para ajudar os pobres.

Cumpria todos os trabalhos que lhe eram pedidos de uma maneira muito humilde e aceitou, por obediência, servir num posto de responsabilidade na Congregação da Missão.

É importante sublinhar o trabalho que exerceu durante a grave epidemia de cólera que arrasou Nápoles e que começou no final de 1836. Ele trabalhou sem descanso para ajudar os doentes, a ponto de por em risco sua própria vida.

Na Abissínia – Eritréia –Etiópia:
Em 1838, o Cardeal Philippe Franzoni, Prefeito da Sagrada Congregação para a Propagação da Fé, teve oportunidade de encontrar Justino, quando era então Superior da Casa Provincial de Nápoles. O Cardeal Franzoni lhe fala da necessidade que havia na Abissínia de um impulso da Missão ali. Justino aceitou ir para lá, sob a condição de seus superiores concordarem. A Congregação da Missão recebeu a responsabilidade desta Missão e Justino ali foi enviado em 24 de maio de 1839, quando tinha então 38 anos de idade.

Justino, assim como o Fundador da Congregação da Missão, Vicente de Paulo, aceitou deixar-se guiar pela mão da Providência na evangelização dos outros.

O Senhor dotou Justino de uma grande compreensão pela cultura do país e de suas tradições. Aprendeu a língua, viveu com as pessoas, e trabalhou para melhorar o relacionamento a nível local.

Era um homem avançado para o seu tempo, no que se refere à inculturação. Por exemplo: para lhes anunciar o Evangelho, utilizava as tradições e a cultura do povo. Era também um magnífico precursor do diálogo ecumênico entre Católicos e Coptos.

Durante vinte anos, Justino se doa ao serviço do Evangelho na Abissínia. Era um exímio acompanhador e formador de Padres, foi ele quem colocou os fundamentos da Igreja Católica local.

Depois de muitos sofrimentos e perseguições, morreu vítima da febre tropical, à beira da estrada, perto de Halai, no vale de Alighedien, no dia 31 de julho de 1860.

Justino de Jacobis foi beatificado em 25 de junho de 1939, pelo Papa Pio XII, e canonizado em 26 de outubro de 1975, por Paulo VI.



Francisco Régis Clet nasceu em 19 de agosto de 1748. Era o décimo dos quinze filhos de Claudine e César Clet.

Francisco fez seus estudos na Escola dirigida pelos Jesuítas, em Grenoble e entrou, em seguida, no seminário diocesano. Era um estudante brilhante. Os Padres da Congregação da Missão eram bem conhecidos em sua cidade e Francisco decidiu seguir a maneira da vida vicentina.

Francisco entrou no Noviciado da Congregação da Missão, em Lyon, no bairro de Fourvière, em 6 de março de 1769. Foi ordenado sacerdote no dia 27 de março de 1773.

Seu primeiro trabalho foi o de professor de Teologia Moral, no Seminário Maior de Annecy, onde era muito admirado e do qual, mais tarde, foi nomeado Superior.

Em 1788, torna-se Diretor do Seminário Interno da Congregação da Missão, na Casa Mãe, em Paris.

Em seguida, apareceram os estragos e as dificuldades da Revolução Francesa e, em 13 de julho de 1789, São Lázaro foi invadido. Os Padres e os Irmãos leigos tiveram que fugir correndo para salvar suas vidas. Voltaram à Casa-Mãe no dia seguinte e constataram que tudo tinha sido saqueado.

Apesar das devastações causadas pela Revolução Francesa, o Superior Geral da Congregação da Missão continua a enviar missionários à China. Francisco Régis Clet se propôs e o Superior o aceitou. Em abril de 1791, ele partiu para a China e chega a Kiang-Si em 15 de outubro de 1792.

Durante quase trinta anos, ele se consagra inteiramente à missão chinesa e se adapta à sua nova maneira de vida, bem como a uma língua particularmente difícil. A maior parte dos Padres entrou na China ilegalmente.

Os Lazaristas, ajudados pelos Padres chineses, trabalharam em diversas Províncias da China, a serviço de mais de 200.000 cristãos. A situação era muito perigosa por causa das perseguições religiosas e deviam evitar serem reconhecidos.

Francisco Régis foi feito prisioneiro em Jinjiagang e jogado mais tarde na prisão de Nan-Yang-Fou. Depois de muitos meses de sofrimentos, por causa das torturas cruéis e brutais, ele foi condenado à morte pelo Imperador. “Vós viestes à China secretamente, vós pervertestes numerosas pessoas, pregando vossa doutrina, e, segundo a Lei deveis ser estrangulado até a morte”. Ele morreu no dia 18 de fevereiro de 1820, perto de Ou-Tchang-Fou, depois de ter sido estrangulado, pendurado numa cruz.

Ele foi beatificado no dia 27 de maio de 1900 e canonizado junto com 119 Mártires chineses, no dia 1º de outubro de 2000. Seu corpo descansa na Casa-Mãe da Congregação da Missão, em Paris.



Um vicentino na China.

João Gabriel Perboyre nasceu em 5 de janeiro de 1802, em Puech, lugarejo da paróquia de Montgesty, na diocese de Cahors, na França. João Gabriel era um dos oito filhos de Maria Rigal e de Pierre Perboyre. A família possuía uma fazenda que os fazia viver e João Gabriel crescia numa família muito católica.

Jacques Jean, o irmão de seu pai, era sacerdote da Congregação da Missão (Lazarista). Estava em missão no Seminário Vicentino, em Montauban, e trabalhava na formação dos futuros Padres. A família Perboyre tinha por ele uma grande amizade, assim como os dezessete primos e sobrinhos da família que passaram pelas mãos deste tio Jacques, no Seminário de Montaubam.

Em 1816, Luís, irmãozinho de João Gabriel, foi enviado a este mesmo Seminário e João Gabriel o acompanhou durante os meses de inverno, para aí prosseguir seus estudos. Na primavera, quando João Gabriel deveria regressar à fazenda, sob a direção de seu tio,  sente o apelo de Deus para ser sacerdote.

Em 15 de dezembro de 1818, João Gabriel entrou na Congregação da Missão, em Montauban. No dia 23 de setembro de 1825 foi ordenado sacerdote por Dom William Dubourg, da diocese da Nova-Orleans, nos Estados Unidos, na Capela das Filhas da Caridade, à rua do Bac, em Paris.

Ensina por um tempo Teologia no Seminário de Saint Flour e foi Diretor do Pensionato da mesma cidade, quando foi chamado a Paris, em 1832, para ser Diretor do Seminário Interno da Congregação da Missão.

João Gabriel, porém, queria partir para a missão da China. Em 29 de agosto de 1835, chegou a Macao, a porta de entrada às missões, na China. Depois de ter trabalhado em numerosas atividades apostólicas em Ho-Nan, apesar dos perigos e das perseguições, foi traído e feito prisioneiro, em setembro de 1839.

No dia 11 de setembro de 1840, em Ou-Tchang-Fou, depois de uma longa e terrível tortura, foi pendurado numa cruz e estrangulado com uma corda.

João Gabriel foi beatificado em 10 de novembro de 1889, pelo Papa Leão XIII e canonizado por João Paulo II, no dia 2 de junho de 1996.


Seu corpo foi transportado a São Lázaro, Casa-Mãe dos Lazaristas, vinte anos depois de sua morte.